009 - Carta aérea

  

Entendia nada, mas ouvia falar em guerra – a Grande Guerra, a Segunda Guerra Mundial. Papai assinava a revista Em Guarda, uma propaganda americana muito bonita, com maioria absoluta de fotos da guerra; buscava-a no Correio, cujo agente, o Senhor Magalhães, era pai do Celso meu colega de escola e amigo, além de afilhado de papai e mamãe. Fotos de soldados e mais soldados vivos e mortos, tanques e mais tanques e milhares de aviões soltando bombas e mais bombas: olhava, achava lindas as fotos, mas compreendia pouco o porquê de tanta bomba e tanta gente morta

 

Outra revista que papai assinava era aSeleções – também propaganda americana. Revistas infantis... inexistiam! Com doze anos, no Seminário, li Chapeuzinho vermelho, Lobo mau e, logo depois, alguns livros de Julio Verne, entre eles Viagem ao centro da terra, A volta ao mundo em 80 dias, Vinte mil léguas submarinas e outros mais. 

 

         Apanhei a correspondência no correio e vim com um envelope com umas tarjas verde-amarelas nas bordas. Dona Telica do Sô Chiquito Quintão, mãe do Hilton e do Zé, meus vizinhos e colegas, explicou-me que as tarjas significavam carta aérea e não comum, e que a taxa para seu envio era mais cara; admirou-se de eu ler o número 1944 estampado no envelope – eu com sete anos. Hoje em dia os meninos de três ou quatro anos já lêem. 

         - Mais aqui nunca vei e num vem um avião, como é qui ela vai?

         - Você tem que saber se, para onde você vai enviar, há possibilidade de ser por avião ou por trem.

         - Ah!... (fiquei na mesma!).

 

                   Benedito Franco

 

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