013 – O tutano

Por sermos muitos, mamãe preocupava-se com nossa alimentação, numa eterna procura de alimentos fortes. Alguém parrudo, dizia-se que tinha muito tutano. Ela pedia ossos no açougue e, quebrando-os, retirava o tutano, colocando-o numa sopa. Também preparava o caldo de mocotó, assim como a geléia, e todos os miúdos de boi e porco – inclusive miolo e coração. Aproveitava os grelos dos pés de imbaúba, de abóbora e de samambaia, refogando-os com um pouco de gordura de porco e sal – não havia ainda os óleos. A gordura de porco era retirada da banha e do toucinho (toicinho!). Porco bom era o de muito toucinho e banha, pelo menos meio palmo de altura – hoje é o que produz carne. 

 

Matando um porco, mamãe fritava a banha e o toucinho, colocando-os em latas de querosene, também chamadas de latas de banha de 20 litros (na realidade, ainda hoje são de dezoito ou quatro galões!). A carne poderia ser colocada no sol, em um varal, seria a carne seca; na fumaça do fogão a lenha, a carne defumada; ou era frita e mergulhada na gordura para conservar - sem eletricidade em casa, e muito menos geladeira - a querosene as poucas existentes no lugarejo – as latas com gordura serviam de geladeiras e conservavam a carne por quase um ano. Em casa, além do galinheiro, um chiqueiro com alguns suínos, engordados e matados no terreiro – papai comprava alguns vivos ou as bandas para vender na loja. Porcos inteiros ou em bandas pesavam-se em arrobas – aliás, até hoje as TVs dão em arroubas as cotações de preços de boi e de porco.

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