016 - Arranca toco

Em Fabriciano, onde hoje é o Fórum, havia um campinho de futebol, freqüentado por mim. Começou em um terreno com pouco mato, que foi desaparecendo com os arranca tocos, assim chamadas as primeiras peladas no local, pois os tocos existentes iam sumindo com o tempo. Jogava-se descalço – quando a gente chutava um toco desses, era uma tremenda dor, um deus nos acuda! Mas a pelada continuava! 

 

O campo servia como matadouro de boi ou porco. A barrigada do boi, incluindo o bucho, fígado, rins, coração etc. e a cabeça e o rabo, doavam-se para os amigos ou para quem pedisse. Depois começaram a vender o coração e os miolos. O boi recebia uma facada no coração, e o sangue que jorrava era bebido ainda quente – as mãos da turma serviam de conchas - ou recolhia-o para o preparo de chouriço de boi (falava-seboi e não vaca, como hoje). Vendia-se o sebo para o sabão caseiro; tomei banho, muitas vezes, com esse sabão feito pela mamãe; os de hoje não limpam, enganam, mas o caseiro limpava até a alma! Atualmente vende-se tudo do boi, até mesmo o berro é gravado e aproveitado em filmes ou gravações de comerciais. 

 

Ah!... A bola era feita com meia ou com bexiga de boi! Havia a bola de borracha – durava pouco, pois rasgava logo, ainda mais quando batia em um desses tocos, além de meio pesada, queimava o pé quando chutada com força. Bexiga é sinônimo de bola e nome de bairro em São Paulo. 

Os bois bravos eram levados para o matadouro amarrados pelo focinho e, acompanhados de cavaleiros, andavam pela rua do vilarejo espantando a todos. Acho que as únicas coisas que a meninada tinha medo – menino morria de medo de soldado também.

         Vez ou outra mamãe ganhava uma barrigada de boi – com o tempo, passou a comprá-la – uma trabalheira para prepará-la e conservá-la. Eu sempre gostei dos miúdos de boi ou de porco advindos das barrigadas.

         Quando passo pelo local, lembro-me do campinho e do pessoal matando os bois, assim como dos couros esticados ao sol para secar e, eles “crus”, usados para confeccionar cangalhas, laços e chicotes.

 

                   Benedito Franco

 

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