015 – O churrasco

 

 Nas grandes festas do lugarejo, Calado, ajuntavam-se os fazendeiros, principalmente o doutor Rubens, o primeiro Prefeito, e o doutor Joaquim, o Superintendente da Belgo, e doavam os bois para o churrasco, em frente ao Hotel do Sô Cornélio. Arrumavam espetos de pau, maiores que um cabo de enxada, abria-se uma vala e a enchia com carvão. Pelo tamanho dos espetos, imaginem os pedaços de carne neles colocados. Todo mundo abastecia-se de carne assada por alguns dias – tentei, pedi, esforcei-me e nunca consegui um pedaço... Lá em casa jamais chegou um... Talvez o Pedrinho uma vez tenha conseguido. 

  

A estação da projeção – Hoje a ferrovia e a rodovia (BR) passam do outro lado do rio -Rio Piracicaba; sua água servia para uso doméstico e onde boa parte dos adultos tomava banho. Esta estação, a antiga, antes mesmo de haver a Acesita, foi remodelada e, posteriormente, demolida

 

As mercadorias para a loja chegavam ao Calado através da estrada de ferro Vitória Minas, ou indo por trilhas, no lombo de burros, com as  tropas.  Não havia outro tipo de estrada para Fabriciano, nem mesmo de Fabriciano para Antonio Dias, sede do Município. Toda estação tinha o salão, almoxarifado, para se colocarem os caixotes e outros pacotes. Retiravam-se os volumes por meio dos carroceiros – eles avisavam aos comerciantes quando havia algo para eles; para isso no lugarejo não havia veículo motorizado, a não ser os caminhões da Belgo, mas para o transporte de carvão até os silos das estações de Ipatinga e Fabriciano. 

 

Os trens de passageiros, maria-fumaça, funcionavam diariamente, tanto para Vitória, quanto para Nova Era. Para seguir de Nova Era para Belo Horizonte, fazia-se a baldeação para o trem da Central do Brasil, cujo responsável geral era o Chefe Otávio, casado com a Tia Litinha, irmã de mamãe. Essas viagens, no tempo das chuvas, chegavam a ser uma Odisséia e às vezes, uma tragédia – um conflito entre o homem, a natureza e a máquina. Quantas e quantas vezes, caindo barreiras, gastavam-se dois ou até mais dias no trajeto de Fabriciano a Nova Era – o que se faz nos dias de hoje, de carro, em pouco mais de uma hora. 

Surgiu por lá um pessoal com um projetor de filmes. O Calado inteiro assistindo pela primeira vez a um filme, projetado na parede externa do almoxarifado da estação. Achei o máximo. Quando terminou, eu pensava que alguma coisa acontecia dentro do almoxarifado e aparecia na parede. Como tinha bastante intimidade com o pessoal da estação, fui conferir se aquela gente do filme estava lá dentro. Com meus seis ou sete anos, saí decepcionado... e nada de perguntar algo a alguém... Mas no dia seguinte, dia claro, voltei para conferir!

Calado é o antigo nome de Coronel Fabriciano – leste de MG.

 

 

Scrivi commento

Commenti: 0